quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A Sociedade Portuguesa: Um retrato – uma sociedade onde paira a incerteza



A sociedade Portuguesa: um retrato – uma sociedade onde paira a incerteza


Portugal assistiu a um forte crescimento económico nas décadas de sessenta e setenta que criou oportunidades únicas e foi conducente à criação de empresas e negócios. Estas empresas cresceram, contudo, sem bases suficientes de capital, tradição, experiência, organização de produção, regras de comportamento entre patrões e empregados, contribuindo para que este crescimento económico assentasse, essencialmente, na mão-de-obra barata.


Portanto, perante um período de crescimento económico, a nação não perde os seus valores, mas as mudanças sociais foram visíveis e inegáveis. Prevalece, contudo, um espírito tipicamente português, bastante prejudicial: o sentimento de atraso face a outros países europeus; a obsessão com a comparação com outros povos mais desenvolvidos; a sensação que Portugal foi noutros tempos um grande país e uma nação muito desenvolvida, a sombra eterna dos descobrimentos portugueses.


Dos anos sessenta aos noventa, as mudanças foram muitas e positivas. Portugal melhorou e cresceu. No entanto a partir de meados da década de noventa, surgiram regressões, estagnações, abrandamento e esgotamento e o sentimento geral da população é agora de desânimo face ao marasmo em que o país se encontra, sem perspectivas de futuro e com um presente cada vez mais difícil.


Quem conheceu tempos melhores e viveu ritmos de progresso significativos sente-se agora ameaçado pelo abrandamento e estagnação do país, tendo receio de perder o que alcançou. O sentimento de incerteza face ao futuro do país é cada vez maior e gera um desânimo generalizado.


Realmente, se nos compararmos com grande parte dos países europeus, recuperámos bastante o atraso, mas continuamos ainda muito longe de adquirir o bem – estar dos mesmos. Este atraso pode e tem tendência para aumentar: continuamos a ser um país pequeno e periférico, cheio de oportunidades desperdiçadas.


Os portugueses caíram num estado de desânimo. Muitos viveram trinta ou quarenta anos muito positivos, durante os quais tudo mudou e melhorou. Outros já nasceram depois da década de sessenta, a maior parte nunca terá ideia real das mudanças que o país atravessou. À euforia do crescimento, seguiu-se a dúvida sobre um futuro cada vez mais incerto.


A estabilidade social e económica era quase que um dado adquirido. Vivia-se e morria-se onde se tinha nascido, pobre, rico ou classe média, a imutabilidade da condição de vida era quase garantida. A expectativa era de viver como se tinha nascido, como eram os seus pais e os seus avós.


Já não se passa o mesmo. A economia, a concorrência, as comunicações, as infra – estruturas e a democracia destruíram estas certezas. Desenvolveu-se a mobilidade social e espacial.


Actualmente a segurança perdeu-se. Ninguém está seguro do seu emprego, da sua habitação ou dos seus bens. Ninguém sabe como será a velhice, quanto serão as reformas e quando, nem sequer se as reformas estão completamente asseguradas para as sucessivas gerações que se forem reformando.


Em suma, cresceu a dúvida e a incerteza face ao futuro do país e as perspectivas não são as melhores. Depois de décadas de crescimento o país tem assistido a um marasmo geral e até um acentuado abrandamento do crescimento outrora observado. A descrença num futuro melhor é geral. Apesar disso os portugueses continuam a querer estar equiparados aos países mais ricos. A falta de estruturas para tal é que é um grande entrave e, mais uma vez, o sentimento de incerteza cresce.



Síntese do artigo: A Sociedade Portuguesa: um retrato, de António Barreto – Associação Portuguesa de Seguradores, Museu do Oriente, Lisboa, 8 de Outubro de 2008



Fonte: Imagem

Sem comentários:

Enviar um comentário