segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A sociedade portuguesa: um retrato: igualdade e conflito I


A sociedade portuguesa: um retrato: igualdade e conflito I


É inegável que de 1960 até agora vivemos um período de desenvolvimento. Foram quarenta anos nos quais todas as classes sociais viram melhorar o seu conforto e a sua qualidade de vida.


O rendimento médio das famílias aumentou seis vezes, as mulheres começaram a trabalhar fora e todos passaram a comer melhor. Embora a crescente crise económica tenha tendência a alterar esta situação, a realidade é que, até então, muitos portugueses passaram a viver melhor.


No princípio dos anos 60 muitas pessoas passavam ainda fome e não são raros os relatos que nos chegam de uma pobreza generalizada nas famílias, maioritariamente numerosas, as quais comiam essencialmente pão ou produtos que produzissem nas suas hortas.


A carne era inacessível e o peixe consumia-se do mais barato e com muita sorte apenas uma vez por semana. Era frequente as crianças e os adultos consumirem álcool logo de manhã, pois era uma fonte de calorias para trabalhar em lugares que exigiam um elevado esforço físico.


Para os trabalhadores rurais a principal refeição do dia era uma espécie de sopa espessa, ou rancho acompanhado com broa ou outro pão. O leite não era um produto acessível a todos, com excepção daqueles que possuíam animais e daí retiravam o seu leite.


Nesta época mais de metade das casas não possuíam sistema de esgotos, tão pouco electricidade ou sanitários ou água canalizada. Em média, uma em cada cinco casas tinha banho e dois terços do total não tinham água canalizada.


De 1970 a 1990 muitos foram os esforços engendrados pelo Estado e pelas autarquias na construção destas infra – estruturas. Actualmente, a maioria das pessoas tem água, luz, gás e casa de banho.


Com a melhoria das condições de vida também o uso dos electrodomésticos se generalizou. Primeiro apareceu a televisão, o fogão, o telefone e o frigorifico. Depois, o aquecimento, a arca frigorifica, a máquina de lavar roupa, a aparelhagem de som e o aspirador. Mais tarde o computador, o vídeo e leitor de DVD, a máquina fotográfica, a máquina de lavar louça e o microondas.


Actualmente dois terços das famílias têm automóvel e são proprietárias da casa onde vivem. Nos anos setenta esta percentagem era uma minoria. Nos anos 70 mais de metade do orçamento era para alimentação, hoje é cerca de 20 a 30% sobrando mais dinheiro para outros gastos de consumo como o vestuário, a habitação, a educação e a cultura.


É contudo, inegável, que o que as famílias hoje gastam por mês é bem superior aos seus rendimentos. As poupanças familiares foram diminuindo, o consumo foi crescendo, estimulando o crédito fácil. Isto foi conducente ao endividamento das famílias, o que constitui um problema grave para a sociedade.


Nestas últimas décadas assistiu-se à criação de uma sociedade de consumo. Construíram-se centros comerciais e grandes superfícies que recebem por dia milhões de pessoas.


Também foi nesta altura que muitos portugueses começaram a fazer férias fora de casa. Primeiro em Portugal, depôs na Europa e também noutros continentes. Longe vão os tempos em que uma percentagem significativa da população nunca tinha visto o mar. Mas esta possibilidade só chegou com a modernização dos costumes e a melhoria das condições económicas dos portugueses.


A abertura ao mundo trouxe cultura, aumentou a oferta e cresceu o público, acabou a censura. Por todo o país sucedem-se os concertos de música, a televisão tirou o público dos cinemas, no teatro assistiu-se à proliferação das Companhias de teatro, bem como as sessões teatrais, mas em contrapartida quase se deu o desaparecimento do teatro de revista.


Os museus continuam a ser pouco frequentados, mas por outro lado, os espectáculos de música clássica aumentaram, bem como o número de espectadores. Em relação à leitura, Portugal continua a apresentar baixos índices de leitura de livros e jornais. Há mais títulos hoje, mais traduções e mais edições de jornais que há trinta anos atrás, mas as tiragens continuam muito reduzidas com excepção dos jornais desportivos e da imprensa dita “cor-de-rosa”.


Ao contrário dos países europeus, em Portugal a leitura não faz parte da cultura popular. Em média, um português lê um livro por ano. Felizmente, este fenómeno também está a mudar e, embora os grandes mestres da literatura não sejam os eleitos da população, a realidade é que se começa a ler cada vez mais no nosso país.


Esta realidade é, contudo visível, essencialmente a uma parte da classe média e da classe alta. O meio de comunicação, por excelência, em Portugal, continua a ser a televisão. Em média, cada português vê 4 horas de televisão por dia, um número bastante superior à média europeia. É o meio de comunicação favorito de todas as classes sociais, sem excepção.


Fonte: A Sociedade Portuguesa: Um Retrato – António Barreto – Associação Portuguesa de Seguradores, Museu do Oriente, Lisboa, 8 de Outubro de 2008

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