quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Emigração portuguesa um fenómeno familiar

4 - Emigração portuguesa: um fenómeno familiar


A emigração portuguesa foi sempre um fenómeno familiar. Inicialmente partiam os homens, para criarem depois as condições necessárias para a família se juntar a eles. A família, no seu conjunto, era sempre o sujeito da emigração. Os portugueses emigraram por razões familiares: - por um projecto de família, que podia ser desde o construir uma casa até à preocupação de poder dar aos filhos condições de vida diferentes das que tinham em Portugal. O emigrante português, no seu perfil mais clássico , partia para outro país para angariar dinheiro para o futuro, pretendendo sempre regressar a Portugal quando cumprido o seu objectivo.


A família era reduto de segurança num mundo desconhecido. De um ponto de vista psico-social, a família fornecia a cada um dos seus membros a segurança afectiva e psicológica necessária para suportar, enfrentar e sobreviver nos países de acolhimento , sobretudo numa primeira fase em que não se conhecia ninguém .

A família tornou-se nicho de identidade sobretudo no cumprimento da sua função educativa. No meio de um ambiente estranho os pais sentiam mais do que nunca que tinham de dar aos seus filhos uma identidade portuguesa e transmitir-lhes a cultura do seu país de origem . assim, tudo o que fosse português, desde o folclore até às especialidades culinárias ganhou especial destaque nas comunidades de emigrantes.

Manter viva a relação com Portugal passou a ser para as famílias na emigração tarefa prioritária. Neste ponto, há que sublinhar o interesse dos pais e o seu empenhamento em muitas associações pela criação e desenvolvimento dos cursos de língua portuguesa como língua materna nos diversos países onde são emigrantes.


A família portuguesa tendeu sempre a acentuar o aspecto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de integração, pois este era entendido e sentido como uma ameaça à sua identidade. Os emigrantes portugueses procuraram sempre manter uma unidade cultural , que os impediu de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança e o desejo de regressarem ao seu país de origem. No entanto, a dinâmica de uma sociedade multicultural e intercultural assenta, por um lado, na cultura da autonomia, por outro, na obrigatoriedade da participação e o emigrante português, fixado na ideia de regresso, sentia pouca vontade de participar e integrar a nova comunidade.


A questão da identidade era quase sempre formulada e sentida como um conflito de valores. A família sentia obrigação na conservação de valores, caracterizados como valores étnicos, nacionais. Muitas vezes eram valores comuns de uma sociedade que já não existia ou estava em vias de desaparecimento – uma sociedade de um Portugal rural, interior, fechado e conservador.


Outra das características destas famílias emigrantes era a falta de vontade dos filhos dos emigrantes de prosseguirem os estudos. Os dados estatísticos de certos países como a Alemanha e a França mostram que os jovens portugueses eram dos grupos menos representados no ensino secundário e nas universidades. A dificuldade com a língua do país de acolhimento era uma das causas imediatas. Mas as raízes do problema são mais profundas: prendiam-se sobretudo com a falta de motivação para aprender a língua tanto dos pais como dos filhos.


Felizmente, esta atitude tem-se alterado, principalmente porque o tipo de emigração e as suas motivações também se alteraram. Até há década de oitenta/noventa o emigrante abdicava de uma vida com dignidade no país de acolhimento, para a ter no seu país de origem , mesmo que não usufruísse desse bem – estar. A qualidade de vida , habitação, mobiliário, gastos com os tempos livres era propositadamente reduzida ao mais elementar .


Gradualmente, este tipo de emigração sofreu alterações. Se o projecto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família se deu conta que esse projecto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado e, prolongando-se, entrava em conflito com outros objectivos importantes da família.- A formação escolar das crianças exigia o adiamento do regresso e obrigava a uma certa integração de facto, em conflito com a ideia do provisório, do regresso.- A redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de trabalho remunerado.


Uma certa integração que o tempo e os contactos sociais acabavam por provocar levou a repensar a relação com Portugal. Na primeira geração, eram sobretudo as mulheres quem mais hesitavam e mais travavam o regresso. A mulher sentia que a sua vida havia mudado e seria ela quem mais teria a perder no caso de um regresso a Portugal em plena vida activa.- Uma vez atingida a reforma, a família portuguesa regressa a Portugal já sem os filhos, visto que muitos, atingida a idade adulta optavam por ficar nos países de emigração. A família ia unida mas voltava desmembrada, regressando só os pais já reformados.

1 comentário:

  1. oLÁ cHAMO-ME sÉRGIO dAÚDE e gostei muito do vosso artigo sobre a emigração portuguesa e as suas causas. Gostaria de convidar para que visitassem o meu blog em www.desigualdadedireitos.blogspot.com um blog sobre direitos humanos.

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