A rapidez com que as mudanças sociais ocorreram em Portugal teve consequências variadas. Quando certos tipos de mudanças sociais não são previamente planeados, não ocorrem de forma gradual e quando não têm tempo de se consolidarem e sedimentarem, as consequências podem ser muito diferentes do que ocorreria em processos de mudança mais longos.
É o caso da educação. O crescimento demográfico nas escolas e a expansão do sistema fizeram-se sem qualquer tipo de planeamento ou ordenação. A falta de professores qualificados, a ausência de planos de desenvolvimento, edifícios, laboratórios, tradições escolares, meios de transporte e organização da rede escolar.
As escolas superiores e as universidades cresceram muito depressa e foi necessário construir à pressa, contratar docentes, criar instituições e estabelecer “numerus clausus”depois de se depararem com o excesso de alunos.
O resultado foi desastroso: a má qualidade do ensino, cursos e diplomas desqualificados, desperdício de recursos, multiplicação de cursos e instituições, investigação deficiente e defeituosa ligação das escolas à sociedade e às empresas.
As taxas de insucesso e de abandono escolar são muito elevadas em Portugal, os resultados são fracos, colocando os portugueses nos últimos lugares nos inquéritos internacionais.
Outros sectores foram influenciados negativamente pelas mesmas razões como é o caso da Justiça, da Saúde, da Administração Pública Central e Autárquica. A rapidez e a evolução da procura não foi mais rápida que a qualidade e rapidez da oferta. É raro o sector da vida colectiva onde os cidadãos não têm de esperar para ser atendido, ou ver os seus processos, pedidos e requisições arrastarem-se por anos nas instituições.
Curiosamente, nem podemos alegar falta de recursos humanos e profissionais, uma vez que na educação há mais professores por aluno que na maioria dos países europeus.
Na saúde pública o número de médicos ronda as médias europeias e é superior aos de outros países com excelentes serviços de saúde pública. Na Justiça, o número de magistrados e outros profissionais é superior ao de muitos países europeus.
Portugal tem uma evidente e grave falta de organização e de eficiência nos serviços que presta! Enquanto os recursos humanos, mais que suficientes, não se organizarem e começarem a prestar um bom serviço aos cidadãos, os nossos serviços públicos figurarão sempre nos últimos lugares das médias europeias.
A realidade é que o país se encontrava demasiado atrasado face à Europa e de repente ultrapassou passos importantes, teve uma evolução demasiado rápida para o que estava preparado.
Acreditamos que ainda estamos a tempo de reorganizar a saúde, a educação e a justiça, agora que o ritmo de modernidade abrandou é tempo de reorganizar modificar o sistema na tentativa de o tornar mais eficaz e útil para a satisfação dos seus cidadãos e do próprio país.
Síntese do artigo: A Sociedade Portuguesa: Um Retrato – António Barreto – Associação Portuguesa de Seguradores, Museu do Oriente, Lisboa, 8 de Outubro de 2008