terça-feira, 22 de setembro de 2009

O que não pode deixar de saber sobre emigração portuguesa


1 - Um país de emigrantes


A análise da emigração portuguesa, revela a existência de variações muito significativas desde o início do século XV, com a descoberta das Ilhas Atlânticas dos Açores e da Madeira, seguida do povoamento destes territórios. Desde então, é de realçar a enorme saída da população portuguesa para África e para as Índias Orientais e Ocidentais, facto que passou a ser uma constante desde o início do século XVII após a descoberta das minas de ouro e de pedras preciosas no Brasil e o arranque da emigração para estas paragens. Assim, as estimativas apontam para :

- A saída de 8000 a 10000 portugueses com destino ao Brasil durante o século XVIII; - a saída de cerca de 28000 emigrantes durante a última década do século XIX.


Desde o século XV que Portugal se assumiu como um país de emigração. Os primeiros destinos dos portugueses, acompanharam as conquistas, as descobertas e a expansão marítima. As primeiras vagas de emigração foram para o Norte de África, depois para as ilhas da Madeira e Açores. À medida que as descobertas avançavam para a costa africana, os portugueses emigravam também para esta zona. No final deste século XV cerca de 100 mil portugueses já tinham saído de Portugal.


No século XVI, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a emigração passou a fazer-se ao longo da África Oriental, e depois no golfo pérsico, Ormuz na Índia, Goa, Diu, Cochim, Coulão, Bassaim e Chaul. Depois estabelecem-se na costa de Coromandel (Bengala), em Malaca, Molucas, na China, Japão, em Timor e Solor (Indonésia). No entanto, é para a Índia que se regista o maior fluxo de emigração neste século.


A nível europeu, a emigração portuguesa registava-se em maior número na Antuérpia, em Sevilha, em Londres e em diversas cidades de França e Itália. A emigração para o Brasil começou a tornar-se cada vez mais importante até que no século XVII se tornou no principal destino dos portugueses.


Durante o reinado Filipino (1580-1640), dezenas de milhares de portuguesas emigraram para Espanha e para as suas colónias. Os portugueses, neste século, estão já espalhados por todo o mundo: do Brasil ao Japão, do Canadá ao Peru, dos países baixos a Moçambique e à Abissínia, de Ormuz e da Pérsia a Timor e às Filipinas, do Rio da Prata a Sevilha e Interior de Castela.


A expulsão dos judeus portugueses contribuiu igualmente para este fenómeno. Estabeleceram-se grandes colónias de emigrantes portugueses na Holanda e na Bélgica, e no Sudoeste da França, Alemanha, Inglaterra, mas também no Norte de África e na região da actual Turquia. Muitos outros rumaram para a Índia e para o Brasil.


Calcula-se que entre 1500 e 1580 tenham saído de Portugal cerca de 280 mil pessoas, sendo que durante a dominação filipina, cerca de 360 mil portugueses emigraram . O número de emigrantes foi tal, que Portugal a partir do século XVI teve de importar mão-de-obra escrava para compensar esta constante saída dos seus naturais.


A ocupação territorial do Brasil absorveu , a partir da segunda metade do século XVI, grande parte da emigração portuguesa. A expansão para o Oriente foi abandonada em favor do Brasil . No final do século, com a descoberta de jazigos de ouro e de pedras preciosas, os portugueses estabelecem-se em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, tendência que prevaleceu no século XVIII. Entre 1700 e 1760 calcula-se que 600 mil portugueses tenham emigrado .O estabelecimento da Corte portuguesa no Brasil e a posterior independência do país não diminuíram o fluxo de emigrantes.


O incremento da colonização de África fez igualmente disparar o número de emigrantes que se instalaram em Angola e Moçambique. No entanto, dado tratar-se de um tipo de emigração repleta de perigos, o Estado recorria frequentemente a degradados, mendigos, pessoas de etnia cigana e órfãos, sendo esta uma prática corrente até ao século XIX para povoar as regiões mais hostis.


Esta tendência manteve-se até ao século XIX, com uma mudança de atitude na emigração a partir do século XX. Na primeira metade do século XX, a emigração para o Brasil continuou a ser muito forte, embora outros países começassem a ser escolhidos: EUA, Argentina, Venezuela, Uruguai e depois da Segunda Guerra Mundial, também para o Canadá.


Assim, no início do século XX e até 1914, o fluxo emigratório para o Brasil era muito grande, apresentando um registo de 195 000 emigrantes só de 1911 a 1913. Nos anos seguintes, em consequência das duas guerras mundiais e da grave crise económica dos anos 30, a emigração sofre novo decréscimo. Precisamente entre os anos 30 e meados dos anos 40 registou-se o menor volume de emigrantes: 7 000 saídas anuais no período 1939/1945; foi o fim da fase transoceânica que caracterizou a primeira metade do século XX, com predomínio da emigração para o continente americano e em especial para o Brasil, mas logo a seguir, com 26 000 saídas anuais entre 1946 e 1955, inicia-se uma nova fase que decorrerá até meados dos anos 70.


Foi neste período que se registaram os valores mais elevados de emigração em Portugal. Entre 1960 e 1974 terão emigrado mais de 1,5 milhões de portugueses, ou seja, uma média de 100 000 saídas anuais, que só a crise petrolífera de 1973 e consequente recessão económica veio travar. Até então, o movimento emigratório assumiu proporções alarmantes, pois aos números oficiais há que acrescentar o grande volume de saídas clandestinas. O máximo de emigrantes legais registou-se em 1966 (120 000), mas o número máximo de saídas foi alcançado em 1970 (173 300 emigrantes, dos quais 107 000 ilegais). Entre 1969 e 1973, período em que o movimento da emigração clandestina ganhou maior importância, 300 000 portugueses saíram ilegalmente do país, correspondendo a 54% do total de emigrantes.

Esta fase de intensa emigração para a Europa ocorreu durante a guerra colonial e originou um decréscimo de 3% na população entre 1960 e 1970. O principal destino foi a França, país que recebeu um terço (65 200) dos emigrantes na primeira metade dos anos 60 (mais de 300 000 emigrantes). Nos primeiros anos da década de 70 a Alemanha começou também a surgir como destino preferencial dos emigrantes portugueses (29% do total), estimando-se que em 1973 aí residiriam 100 000 portugueses.


As políticas coloniais portuguesas , sobretudo a partir dos anos 30, provocaram igualmente um importante fluxo de emigrantes para as colónias - Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Estado da Índia (Goa, Dão e Diu), Macau, Timor). Apesar do número destes emigrantes ter aumentado continuamente até aos anos 70, foi sempre inferior ao daqueles que rumavam para o Brasil e para a França. A emigração para a África do Sul, sobretudo entre 1964 e 1967, atingiu valores significativamente elevados.



Nos anos oitenta e noventa a emigração continuou, sobretudo para a Alemanha e para a Suíça. O fenómeno mais importante foi todavia, primeiro o repatriamento de emigrantes das ex-colónias (1974-1977), e depois o retorno de emigrantes dos países europeus (reformados) a partir dos anos oitenta. Actualmente, passamos de um país de emigração para um país de imigração. Contudo, continuamos a registar alguns índices de emigração, feita por razões diferentes das anteriores.


A nova emigração portuguesa é qualificada. Mais de metade dos emigrantes são jovens e completaram o ensino secundário ou superior. Presentemente , 52% dos 27 mil portugueses que emigram possuem habilitações literárias mais elevadas e partem devido ao aumento do desemprego nacional e aos baixos salários praticados no nosso país. Os destinos da emigração nacional não se alteraram muito. Suíça e França continuam como preferidos, seguindo-se uma novidade: a Espanha. De salientar que nestes emigrantes se incluem muitos investigadores. Portanto, estamos a exportar importantes recursos humanos qualificados, acabando por importar mão-de-obra barata e sem qualificações.


Em suma, os últimos trinta anos da sociedade portuguesa registaram, do ponto de vista dos movimentos migratórios, três acontecimentos marcantes. O primeiro foi a chegada, em poucos meses, de um intenso fluxo de mais de meio milhão de portugueses e de população de origem portuguesa, residente nas ex-colónias africanas , em consequência do 25 de Abril de 1974 e do subsequente processo de descolonização que lhe esteve directamente associado. O segundo acontecimento foi o regresso parcial de emigrantes; o terceiro foi a intensificação dos fluxos imigratórios, num país tradicionalmente de emigração

O grande fluxo de emigração dos anos sessenta


1. 1 - O grande fluxo de emigração dos anos sessenta


A partir da segunda metade do século XX, as preferências da emigração portuguesa fixaram-se na Europa , em particular na França, com uma quebra acentuada da emigração transatlântica. O incremento dos movimentos da população no continente europeu , sobretudo no período posterior à segunda Guerra Mundial, constituiu um dos sintomas do processo de desenvolvimento e da mudança social que experimentou o velho continente no período de reconstrução e da expansão económica que se seguiu àquele conflito armado.


Neste caso não só as razões de natureza económica relacionadas com o nível de vida, as fracas oportunidades de emprego existentes nas regiões rurais e a incapacidade do tecido produtivo para absorver os contingentes de assalariados e de trabalhadores libertos das actividades agrícolas e de subsistência, contribuíram para acelerar este movimento. Também as razões de natureza política decorrentes do regime Salazarista e da guerra em África justificaram muitas dessas saídas.


Durante o período do Estado Novo saíram de Portugal, à procura de trabalho ou melhores condições de vida, mais de dois milhões de portugueses. Desse número, mais de 40% das partidas ocorreram nos anos sessenta. As primeiras décadas do regime, que foram abrangidas pela crise de 1929 e pela II Guerra Mundial, pela recessão económica e pela insegurança internacional , foram de fraco fluxo emigratório, apenas 7000 portugueses abandonaram o país.


Na década de 50, a expansão económica europeia provocou uma alteração no destino emigratório, sendo que o destino dos emigrantes, legais e ilegais, substituiu a América pela Europa, em particular pela França. No ano de 1950, as saídas já atingiram o número de 20 mil e foram subindo em flecha até, em 1970, atingirem as 183 mil saídas anuais. Em 1960, a emigração aumentou extraordinariamente e, em 1962, a emigração clandestina ultrapassou os 61%, sendo de 511 899 o número de clandestinos portugueses em França. Portugal passou então por um fenómeno de emigração crescente, em que famílias inteiras, de todas as regiões do país (zonas rurais, urbanas industrializadas, de maior e de menor densidade populacional) e portugueses de diferentes categorias profissionais abandonaram o país.


Desde finais dos anos 50, e sobretudo na década de 60, foram também consideráveis os movimentos migratórios de todos os territórios portugueses para as então colónias africanas. É também neste período que a Venezuela se afirma como destino da emigração portuguesa, em especial de madeirenses (mais de 60% dos cerca de 400 000 residentes de origem portuguesa), que também procuraram a África do Sul, onde hoje residem cerca de 300 000 portugueses, maioritariamente madeirenses. No continente americano, Estados Unidos e Canadá não deixaram de exercer uma forte atracção, recebendo sobretudo emigrantes açorianos.

Nos Açores, terra de emigração desde os mais recuados tempos, o maior fenómeno emigratório moderno deu-se a partir de 1957, aquando da erupção do vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial: num gesto de solidariedade o Canadá ‘abriu’ a imigração às vítimas do vulcão e, quase imediatamente, a todos os açorianos. Vejamos o exemplo da ilha de São Miguel, onde de 1957 a 1977 emigraram 107 131 pessoas, mais de metade das quais para o Canadá e dois quintos para os Estados Unidos.


Na Madeira, ilhas de grande densidade de população e poucos recursos, a emigração foi sempre uma das opções tomadas: de 1900 a 1974 o número de saídas legais elevou-se a 152, 000, metade das quais no período 1955/1974. A composição dos fluxos emigratórios também se alterou: inicialmente constituídos por mão-de-obra masculina, os últimos anos da década de 60 revelam uma maior participação feminina – 40% em 1966, 48% em 1967 e 54% em 1968 – e uma maior proporção de jovens menores de 15 anos, valores que evidenciam o processo de reagrupamento familiar em curso nesse período. Em traços gerais, a maioria dos emigrantes era adulta, sobretudo homens com baixos níveis de escolaridade e de qualificação profissional.

A partir de meados dos anos 70 a emigração em Portugal entra numa nova fase. Desde logo pela grande quebra verificada no número de saídas: entre 1974 e 1988 a emigração oficial cifrou-se em 230 000 saídas, o que corresponde a uma média anual de, apenas, 15 000 emigrantes. A par desta redução da emigração, os destinos dos emigrantes também sofreram uma maior diversificação. Os portugueses continuaram a partir para a Europa – França, Espanha, Luxemburgo, Suíça e Alemanha, revitalizando redes já existentes ou criando novos espaços de emigração – mas também para os Estados Unidos e Canadá e outros destinos longínquos como a Austrália, África do Sul e países do Médio Oriente.

A crise económica ocorrida na Europa nos anos 70 travou a emigração. A subida do desemprego conduziu os países receptores a adoptarem medidas de forma a impedir a entrada de mais emigrantes, criando até incentivos para o seu regresso ao país de origem. Neste período ficou também bem patente a dispersão e fixação dos portugueses e dos seus descendentes por todos os continentes, donde o surgimento de significativas comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo.

Causas e características da emigração portuguesa


2- Causas e características da emigração

Várias são as causas que , ao longo do tempo, têm levado as pessoas a emigrar. Principalmente as más condições de vida no país de origem, têm sido a principal causa. Contudo, importa assinalar que também algumas circunstâncias de natureza política têm determinado a necessidade de emigrar como por exemplo, devido a perseguições de natureza política, à falta de liberdade expressão, à guerra nas antigas colónias e às práticas sociais dominantes que levaram à fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.


O grande fluxo de emigração para a Europa , conhecido entre nós no decurso dos anos sessenta e setenta, contribuiu para enfraquecer o movimento transoceânico e acompanhou a tendência global da emigração intra-europeia registada igualmente noutros países europeus durante a segunda metade do século XX. A importância destas saídas foi bastante acentuada nas regiões densamente povoadas do norte e do centro do país, assim como nas Ilhas Atlânticas dos Açores e da Madeira.


Da mesma forma, este fenómeno afectou as regiões do Minho, de Trás-os-Montes e da Beira - Alta, de onde partiram os maiores contingentes de emigrantes não só em direcção ao Brasil mas também, já durante a segunda metade do século XX, para os países industrializados da Europa Ocidental: França, Alemanha; Luxemburgo e mais recentemente para a Suíça. Segundo registos oficiais efectuaram-se cerca de um milhão de saídas no período compreendido entre meados dos anos cinquenta e os finais dos anos oitenta do século passado.

A dimensão do fenómeno da emigração confirma tratar-se de uma constante estrutural da sociedade portuguesa associado à falta de condições de subsistência relacionadas com as más condições de vida da população, com a estrutura fundiária e com as pressões demográficas decorrentes do declínio das antigas civilizações agrárias da Europa mediterrânica.



Estes fluxos de emigração tiveram várias consequências a nível nacional. Entre elas, o processo de crescimento urbano e industrial, sobretudo na faixa centro e norte litoral do território e o aumento dos movimentos da população com destino aos principais centros urbanos agravando, desta forma, o processo de desertificação do interior que se tem vindo a acentuar no decurso das últimas décadas .

Os portugueses na Austrália e Luxemburgo


i) Os portugueses na Austrália

Os pioneiros da emigração portuguesa para a Austrália foram os madeirenses, que na década de 50 estabeleceram uma pequena comunidade piscatória, na cidade de Fremantle, na costa ocidental. Desde então, os portugueses continuaram a chegar à Austrália em número sempre crescente até aos anos 90, altura em que muitos começaram então a regressar a Portugal.


De acordo com o recenseamento de 1996 levado a cabo pelo Australian Bureau of Statistics, a Austrália contava nessa altura com cerca de 17 mil pessoas nascidas em Portugal e mais cerca de nove mil descendentes de portugueses, que em conjunto representavam uns meros 0,15% da população australiana Apesar de pequena, a comunidade portuguesa encontra-se razoavelmente bem organizada.


Estes emigrantes são pessoas com fracas habilitações literárias (cerca de 61% da comunidade portuguesa não possui habilitações literárias ou qualificações profissionais de qualquer espécie) que apostaram em áreas como a restauração e hotelaria, difundindo a cultura portuguesa na Austrália. Se, por um lado, a falta de qualificações impede a comunidade portuguesa de ter um papel mais relevante na sociedade australiana, por outro lado é essa mesma falta de qualificações que mantém a comunidade empregada, dada a abundância da oferta de trabalho para mão de obra não qualificada.


A taxa de desemprego da comunidade portuguesa situada sete pontos percentuais abaixo da média nacional de 9.2%. Regra geral, a mão-de-obra não qualificada é razoavelmente bem paga e a grande maioria dos portugueses consegue manter um nível de vida igual - e por vezes superior - à média australiana. Mas a comunidade portuguesa conta também com profissionais altamente qualificados, como médicos, advogados e docentes universitários, que muito têm contribuído para a causa lusitana. A sua presença é, no entanto, discreta, e a sua visibilidade dentro e fora da comunidade bastante reduzida. Não só por serem em menor número mas também porque, ao integrarem-se melhor na sociedade australiana, fazem que as suas raízes étnicas deixem de ser perceptíveis. Uma nova vaga de portugueses altamente qualificados está a chegar à Austrália e promete abrir um novo capítulo na história das relações entre os dois países.

j) Os portugueses no Luxemburgo

A emigração portuguesa para o Luxemburgo inicia-se em meados dos anos 60 do século XX, quando os portugueses começam a substituir os emigrantes italianos como força de trabalho. Presentemente constituem a maior comunidade de estrangeiros do país, com 54.490 pessoas (10,8% da população), seguidos pelos italianos (5%),franceses (3,4%), belgas ( 2,5%) e alemães ( 2,2%).

Os portugueses em Macau e Espanha


g) Os portugueses em Macau

A presença dos portugueses na China, data dos anos 20 do século XVI, quando passaram a frequentar com regularidade as suas costas para fazerem comércio com os seus habitantes. Macau tornou-se rapidamente no principal entreposto de comercial e cultural entre o Ocidente e o Oriente. Na sequência da queda da ditadura em Portugal, em 1974, Macau passou a ser reconhecido como um « território chinês sob administração portuguesa»: Mais tarde Portugal propôs à China a entrega de Macau, salvaguardando a cultura e especificidade deste território, o que veio a acontecer em Dezembro de 1999.

O chinês e o português são as línguas oficiais, sendo o cantonense falado em todo o território. As línguas oficiais são usadas nos departamentos do governo, assim como em todos os documentos e comunicados oficiais. Em geral o inglês é usado no comércio e turismo


Depois da integração de Macau na China a ligação com Portugal continua a ser muito viva. A China tem mantido alguns dos aspectos que individualizaram durante séculos este território, procurando nomeadamente reforçar os contactos comerciais com todos os países de expressão oficial portuguesa. Macau continua a ser uma porta para a influência chinesa no Ocidente


h) Portugueses em Espanha


No total são cerca de 70 mil os emigrantes portugueses em Espanha, um número relativamente pequeno se tivermos em conta o número de emigrantes portugueses em países como a Suíça, Grã-Bretanha, França ou mesmo nos Estados Unidos. Uma larga percentagem destes emigrantes residem em Portugal, embora trabalhem em Espanha. A proximidade entre os dois países facilita a emigração temporária.


Estamos perante uma emigração constituída por pessoas com um baixíssimo nível de escolaridade, oriundas dos meios mais pobres de Portugal cujos recursos não lhes permitem também grandes possibilidades de deslocação; limitam-se a atravessar a fronteira e a arranjarem trabalho num sítio qualquer de Espanha, tentando aproximarem-se tanto quanto possível dos Pirenéus. As regiões mais deprimidas de Trás-os-Montes foram aquelas que maior número de emigrantes forneceram para os trabalhos nas minas de Leon e Astúrias.

Os portugueses na África do Sul, Venezuela e Suiça


d) Os portugueses na África do Sul


A grande vaga de emigrantes deu-se a partir dos anos 50 do século XX, na sua maioria oriundos das ilhas da Madeira. Após a Independência de Angola e Moçambique (1975), ocorreu uma segunda vaga, quando milhares de portugueses que haviam abandonado estes países se fixaram na África do Sul. Com o fim do regime do "apartheid", em 1990, todos os brancos, incluindo os portugueses, passam a acusados de terem colaborado com as práticas racistas anteriores. Não tardou em ocorrer um aumento dos atentados e assassinatos de brancos. Não estamos perante qualquer perseguição de cariz racista a uma dada comunidade, mas de um aumento brutal da criminalidade neste país, onde as clivagens sociais continuam a ser enormes. Portanto, a comunidade portuguesa neste país são cada vez menor e menos significativa.


e) Os portugueses na Venezuela


A presença de portugueses na Venezuela data do século XVI, no entanto a primeira comunidade de portugueses só se fixou no princípio do século XVII. Filipe II de Espanha permitiu que os cristãos-novos portugueses se estabelecessem nas suas colónias na América, incluindo a Venezuela. No entanto, só no século XX é que esta emigração foi significativa, principalmente nas décadas de quarenta e cinquenta. saíam principalmente da Madeira, e zona Norte de Portugal.



Em 1950 viviam na Venezuela cerca de 10.954 portugueses ( 8% do total da população estrangeira), dedicando-se primeiro à agricultura e depois também ao comércio. Entre os anos 40 e 60 muitos portugueses se refugiaram na Venezuela por motivos políticos.
Actualmente cerca de 70% das padeiras e dos restaurantes, 50% das mercearias são propriedade de portugueses ou dos seus descendentes. Vivem na Venezuela cerca de 400 mil imigrantes portugueses.


f) Os portugueses na Suíça


A emigração de portugueses para a Suíça foi até aos anos 60 muito esporádica, e quase sempre confinada aos grupos sociais de maiores rendimentos. A primeira vaga de emigrantes começou nessa década, para suprirem necessidades de mão-de-obra nos sectores da Construção Civil, Hotelaria e a Agricultura (1970: 3.632 portugueses).No final dos anos 70 tornou-se numa terra de emigrantes portugueses, nomeadamente para os que regressaram de África . Vivem e trabalham na Suíça cerca de 152.826 cidadãos lusos, constituindo a terceira comunidade estrangeira a residir neste país. Ao todo representam 9,5% dos 1,43 milhões de habitantes de nacionalidade não suíça.

Os portugueses na França


c) Os portugueses na França

A grande emigração para França é algo relativamente recente, data do final dos anos 50 do século XX, quando cerca de 1,5 milhão de portugueses emigraram para este país. Em 1990 registavam-se neste país um total de 798.837 pessoas de origem portuguesa (603 686 mil haviam nascido em Portugal e 195 151 em França).


A emigração de portugueses para França entre 1961e 1974 é um dos episódios mais impressionantes da história contemporânea de Portugal. A emigração que ocorre a partir de meados dos anos 50 tem uma natureza muito distinta da anterior. Esta é marcada por uma profunda descrença nas capacidades de desenvolvimento do país, sob o jugo de uma ditadura desde 1926. O aumento da informação do que se passa no resto na Europa, não deixa dúvidas: a única forma de fugirem às condições degradantes em que viviam e trabalhavam em Portugal era partirem para a Europa.


Em 1950, apenas se registam 314 emigrantes. Quatro anos depois são já 747 para em 1965 atingirem os 1.336. Em 1958 serão 6.264. A partir daqui os números disparam. Em 1970, atinge-se o valor máximo: 135.667 indivíduos num só ano. Entre 1958 e 1974, cerca de um milhão de portugueses instala-se em França, dispostos a trabalhar em qualquer posto. Assim, a sua exploração era facilitada e começava muitas vezes em Portugal, com as redes que os transportavam até à fronteira, e não raro os abandonava pelo caminho. Muitos portugueses morriam neste percurso.


Em França eram vítimas de todo o tipo de discriminações no trabalho, no alojamento e nas mais pequenas coisas do dia-a-dia. poucos emigrantes esperavam enriquecer, mas todos esperavam conseguirem uma vida mais digna . Tratava-se de uma verdadeira vaga, em grande parte clandestina, contra a qual todas as leis se revelavam ineficazes. Em poucos anos despovoaram-se regiões inteiras abrindo-se profundas rupturas nas estruturas económicas, sociais e culturais de Portugal.


Estes emigrantes eram frequentemente pessoas de baixo nível cultural e sobretudo despolitizadas, quase sempre ligados a profissões desqualificadas. As mulheres conseguiam vagas como porteiras e os homens como operários da construção civil. Ocupavam bairros – de –lata e viviam em condições de extrema precariedade, bem piores que aquelas que tinham no seu país de origem.

Os portugueses nos EUA


b) Os portugueses nos Estados Unidos da América


No século XVII formaram-se as primeiras comunidades de portuguesas nos Estados Unidos e no século XIX, os imigrantes portugueses já estavam espalhados por todo o território norte-americano, concentrando-se em especial nas zonas costeiras, em localidades portuárias onde existiam importantes actividades piscatórias. A que a pesca da baleia foi uma das actividades que levou ao longo dos séculos muitos portugueses para os EUA, em particular os açorianos.


A emigração massiva de portugueses para os EUA ocorreu entre 1820 e 1872, quando entraram nos EUA 379.130 imigrantes. A questão que dividia os dois países era a questão colonial.. A emigração portuguesa para os EUA manteve-se muito elevada até ao final dos anos 20. Entre 1901-1910: 69.140 emigrantes; 1911-1920: 89.732; 1921-1930:.30.000 emigrantes . Depois da crise de 1929, foram tomadas medidas muito restritivas contra a emigração. Os candidatos, por exemplo, tinham que saber inglês falado e escrito. O número de emigrantes portugueses desceu entre 1931 e 1950 para cerca de 10.750.


A segunda vaga de emigração, depois do século XIX, ocorreu na sequência da erupção do vulcão dos Capelinhos (1957), na Ilha do Faial, Açores. Os americanos concederam vários vistos para as famílias afectadas pelo vulcão. Entre 1958 e 1965 cerca de 15.000 açorianos do Faial emigraram para os EUA. Este acontecimento provocou uma mudança das leis da emigração deste país. Calcula-se que em consequência destas, entre 1960 e 1980 cerca de 180.000 portugueses tenham emigrado para os EUA (metade destes emigrantes eram açorianos).

Os portugueses no Brasil


a) Os portugueses no Brasil


Portugal e o Brasil partilham uma história comum desde o seu descobrimento, em 1500. Em rigor só se pode falar de imigração portuguesa no Brasil após a Independência deste país em 1822. Diversos estudos revelaram um constante movimento migratório de portugueses para o Brasil desde o século XVI, o qual aumentou no século XVIII. Após a Independência prosseguiu o fluxo migratório, tendo atingido a sua máxima dimensão entre 1901 e 1930. Esta emigração manteve-se muito elevada até finais dos anos 50 do século XX, quando cessou quase completamente. A partir dos anos 60 o movimento migratório passou a ser do Brasil para Portugal, atingindo a partir do final dos anos 90 valores muito significativos.


O Brasil apresentava-se como um terra de enormes oportunidades para os portugueses, sem os perigos que tinham de enfrentar noutras regiões do mundo. Durante muito tempo, o fluxo migratório para o Brasil, foi de tal forma acentuado que o despovoamento no país foi notório e durante séculos carecemos de mão-de-obra , travando o desenvolvimento nacional. ligada à acção de colonização, e que se traduziu na ocupação durante o século XVI de todo o litoral costeiro, os emigrantes portugueses eram atraídos pela exploração do açúcar, do tabaco e depois do ouro e pedras preciosas. .


A emigração não terminou com a independência do Brasil. Os fluxos migratórios eram suscitados pelas necessidades de mão-de-obra em inúmeras actividades, em espacial as relacionadas com o comércio, a indústria, mas também com as plantações de café e de algodão. Estas necessidades foram agravadas pelo fim do tráfico de escravos (1850) e depois com a abolição da escravatura (1888). Os imigrantes europeus, incluindo os portugueses, foram substituindo progressivamente a mão-de-obra escrava. No final do século, milhares de emigrantes dirigiam-se também para o Amazonas, onde se iniciou a exploração da borracha.


Com a implantação da República em Portugal, a vaga de emigrantes rumo ao Brasil voltou a aumentar. No entanto, todo o século XX foi marcado pela redução do número de emigrantes para o Brasil. A maioria destes emigrantes era trabalhadores rurais ou pequenos comerciantes, construtores civis ou possuíam profissões domésticas. No geral, tratava – se de pessoas desprovidas de capacidade técnica para a direcção e orientação das grandes tarefas do comércio e da industria. Saíam em famílias completas, com elevada percentagem de mulheres e de crianças, na sua maior parte analfabetas.

Os portugueses no mundo


3 - Os portugueses no mundo

Seguindo ritmos distintos, registando a par da emigração legal a emigração clandestina e mostrando preferências diversificadas consoante a antiguidade e a tradição emigratória, as características sociais e as oportunidades de saída oferecidas a esta população deram origem à formação de diversas comunidades de portugueses residentes no estrangeiro que têm contribuído para o crescimento económico desses países e para o reforço das sociedades multi-culturais onde residem. Actualmente, cerca de 4,6 milhões de cidadãos, de origem portuguesa residem nos mais diferentes países.


Uma análise mais pormenorizada desta distribuição realça a distribuição desta população por 28 países na Europa; 39 países em África; 32 países na América; 22 países na Ásia e 2 países na Oceânia. Desta distribuição, ressaltam alguns aspectos relacionados com a antiguidade deste fenómeno; outros as suas características recentes. Assim, em relação à emigração "transoceânica", entre os destinos referidos o Brasil, continua a ser o país onde a presença portuguesa é mais relevante e onde os laços de consanguinidade com a sociedade portuguesa, oriunda quer do continente quer dos Açores e mesma da Madeira, é mais evidente.


Já os EUA surgem como o destino privilegiado da população açoriana e de muitos emigrantes do continente atraídos em épocas distintas, tal como aconteceu com o Canadá, pelas oportunidades de emprego aí existentes. Mas não podemos deixar de referir, ainda no continente americano, a Venezuela e a Argentina, as Antilhas Holandesas e as Bermudas, destinos muito procurados nos finais do século XIX. No seu conjunto tratam-se de destinos característicos da emigração transoceânica que se desenvolveu a par da intensificação da colonização do Brasil e da exploração das suas riquezas naturais e do alargamento de outros destinos relacionados com o desenvolvimento industrial e urbano do continente norte americano.


Relacionada com a colonização de alguns territórios africanos , o fluxo de emigração para este continente veio, principalmente da Madeira. A evolução dos regimes políticos africanos não permite no entanto o fortalecimento de comunidades numerosas pelo que o total de cidadãos nacionais neste continente parece estar a reduzir-se. Igualmente significativa, é a presença em certos países asiáticos. Neste caso as maiores percentagens em Hong-Kong e na Índia, parecem significar a manutenção de antigos laços com os antigos territórios sob administração portuguesa, da Índia e de Macau.


A nível europeu, o grande número de portugueses que emigraram para a França torna este país no destino mais procurado na história contemporânea da emigração portuguesa. . Contudo o exemplo mais sugestivo deste fenómeno e das suas manifestações recentes é a emigração para a Suíça país onde o número de cidadãos de origem portuguesa ultrapassa uma centena e meia de milhar. Tendo em conta a dimensão da população portuguesa residente no território nacional, cerca de dez milhões de habitantes, os valores acima referidos de quase cinco milhões, atestam a dimensão nacional deste fenómeno.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Emigração portuguesa um fenómeno familiar

4 - Emigração portuguesa: um fenómeno familiar


A emigração portuguesa foi sempre um fenómeno familiar. Inicialmente partiam os homens, para criarem depois as condições necessárias para a família se juntar a eles. A família, no seu conjunto, era sempre o sujeito da emigração. Os portugueses emigraram por razões familiares: - por um projecto de família, que podia ser desde o construir uma casa até à preocupação de poder dar aos filhos condições de vida diferentes das que tinham em Portugal. O emigrante português, no seu perfil mais clássico , partia para outro país para angariar dinheiro para o futuro, pretendendo sempre regressar a Portugal quando cumprido o seu objectivo.


A família era reduto de segurança num mundo desconhecido. De um ponto de vista psico-social, a família fornecia a cada um dos seus membros a segurança afectiva e psicológica necessária para suportar, enfrentar e sobreviver nos países de acolhimento , sobretudo numa primeira fase em que não se conhecia ninguém .

A família tornou-se nicho de identidade sobretudo no cumprimento da sua função educativa. No meio de um ambiente estranho os pais sentiam mais do que nunca que tinham de dar aos seus filhos uma identidade portuguesa e transmitir-lhes a cultura do seu país de origem . assim, tudo o que fosse português, desde o folclore até às especialidades culinárias ganhou especial destaque nas comunidades de emigrantes.

Manter viva a relação com Portugal passou a ser para as famílias na emigração tarefa prioritária. Neste ponto, há que sublinhar o interesse dos pais e o seu empenhamento em muitas associações pela criação e desenvolvimento dos cursos de língua portuguesa como língua materna nos diversos países onde são emigrantes.


A família portuguesa tendeu sempre a acentuar o aspecto da identidade, colocando de lado qualquer apelo de integração, pois este era entendido e sentido como uma ameaça à sua identidade. Os emigrantes portugueses procuraram sempre manter uma unidade cultural , que os impediu de integrar as sociedades onde se inseriam, mantendo sempre a esperança e o desejo de regressarem ao seu país de origem. No entanto, a dinâmica de uma sociedade multicultural e intercultural assenta, por um lado, na cultura da autonomia, por outro, na obrigatoriedade da participação e o emigrante português, fixado na ideia de regresso, sentia pouca vontade de participar e integrar a nova comunidade.


A questão da identidade era quase sempre formulada e sentida como um conflito de valores. A família sentia obrigação na conservação de valores, caracterizados como valores étnicos, nacionais. Muitas vezes eram valores comuns de uma sociedade que já não existia ou estava em vias de desaparecimento – uma sociedade de um Portugal rural, interior, fechado e conservador.


Outra das características destas famílias emigrantes era a falta de vontade dos filhos dos emigrantes de prosseguirem os estudos. Os dados estatísticos de certos países como a Alemanha e a França mostram que os jovens portugueses eram dos grupos menos representados no ensino secundário e nas universidades. A dificuldade com a língua do país de acolhimento era uma das causas imediatas. Mas as raízes do problema são mais profundas: prendiam-se sobretudo com a falta de motivação para aprender a língua tanto dos pais como dos filhos.


Felizmente, esta atitude tem-se alterado, principalmente porque o tipo de emigração e as suas motivações também se alteraram. Até há década de oitenta/noventa o emigrante abdicava de uma vida com dignidade no país de acolhimento, para a ter no seu país de origem , mesmo que não usufruísse desse bem – estar. A qualidade de vida , habitação, mobiliário, gastos com os tempos livres era propositadamente reduzida ao mais elementar .


Gradualmente, este tipo de emigração sofreu alterações. Se o projecto primeiro era angariar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo, para poder regressar, cedo a família se deu conta que esse projecto económico não era realizável no espaço de tempo sonhado e, prolongando-se, entrava em conflito com outros objectivos importantes da família.- A formação escolar das crianças exigia o adiamento do regresso e obrigava a uma certa integração de facto, em conflito com a ideia do provisório, do regresso.- A redistribuição de papéis na família, muitas vezes de forma pouco fiel à tradição, começava a afirmar-se à medida que as mulheres encontravam formas de trabalho remunerado.


Uma certa integração que o tempo e os contactos sociais acabavam por provocar levou a repensar a relação com Portugal. Na primeira geração, eram sobretudo as mulheres quem mais hesitavam e mais travavam o regresso. A mulher sentia que a sua vida havia mudado e seria ela quem mais teria a perder no caso de um regresso a Portugal em plena vida activa.- Uma vez atingida a reforma, a família portuguesa regressa a Portugal já sem os filhos, visto que muitos, atingida a idade adulta optavam por ficar nos países de emigração. A família ia unida mas voltava desmembrada, regressando só os pais já reformados.

Democracia Aberta


Somos um conjunto vasto de pessoas que entende que em Portugal existe um défice de reflexão pragmática e profunda sobre os problemas da sociedade , com os quais nos confrontamos.


Este conjunto vasto de pessoas põe a sua experiência ao serviço dessa reflexão. Sem pretensões de sermos os únicos detentores da verdade, aceitando a dúvida, como um instrumento sistemático de progresso.


Esta posição não invalida a formulação usada e ambiciosa de projectos que possibilitem a Portugal vencer as deficiências estruturais com as quais, ao longo da nossa história, nos temos confrontado.